Movimento No Seu Tempo | Recupere o controle sobre o seu tempo

Designer

Como projetar respeitando o tempo dos indivíduos?

Este é o maior desafio que já enfrentamos como designers. Projetamos para as pessoas e tudo o que projetamos impacta no mundo de alguma maneira. Entenda melhor esse contexto.

Se você está aqui porque eventualmente percebeu, mesmo inconscientemente, que grande parte dos produtos e serviços digitais aparentam estar consumindo o tempo das pessoas de forma descontrolada, ou porque tomou conhecimento sobre o tema da economia da atenção, ou mesmo por uma característica intrínseca do designer, que é a de ser curioso e inquieto. Se sim, você está no lugar certo.

As grandes empresas de tecnologia, como Facebook e Google travam uma batalha oculta para aprisionar a atenção das pessoas em suas plataformas, sem o devido apreço nas consequências que isso pode acarretar, como por exemplo que pais que se distraem quando brincam e interagem com as crianças pequenas, direcionando os olhos para outros objetos como smartphones, podem impactar a capacidade das crianças de prestar atenção e geram, assim, atrasos de desenvolvimento. 1

E o designer tem um papel importantíssimo na construção desses produtos e serviços que afetam milhões de vidas diariamente. Portanto para conseguirmos projetar melhor, precisamos entender um pouco quem é o designer, a importância dele e o que projetamos.

Quem é o designer?

Todo designer em algum momento na sua carreira teve que responder alguma dessas perguntas, ou talvez todas elas juntas: O que é design? O que faz um designer? Qual é o seu papel como designer? Na maioria das vezes, são perguntas fáceis de responder. Uma definição que gosto bastante é que o designer é aquele que projeta coisas, independentemente do nome do cargo que ocupa.

Aquele que de alguma forma influencia, cria ou altera o funcionamento de algum produto ou serviço está, de alguma maneira, projetando, logo, está fazendo design.

“O design é um ato político”
— Mike Monteiro

Podemos ir mais longe: o ato de projetar ou não algo é uma escolha consciente; compreender as consequências dessas escolhas e, ainda assim, ignorá-las é um ato político.

O que os designers projetam e quais são as consequências?

Um designer pode projetar praticamente qualquer coisa, e tudo o que o designer projeta, independentemente de qual seja o objetivo inicial, causa impacto no mundo.

Ou seja, os designers são responsáveis tanto pelo que colocam no mundo quanto pelos efeitos que estas coisas implicam. Sendo assim, precisamos assumir essa responsabilidade.

As máquinas caça-níqueis, que têm o objetivo de fazer com que os clientes passem o maior tempo possível as utilizando.

O botão curtir do Facebook, que é uma máquina de predições baseadas em uma ação que se transformou em um sistema universal de recompensas.

Os motores de combustão, que contribuem fortemente para o aquecimento global.

As armas de fogo, que tiram a vida de pessoas.

As redes sociais, que buscam ampliar as conexões humanas, mas não possuem ferramentas que protejam e ajudem a lidar com o abuso ou o assédio.

“Você está jogando contra uma inteligência artificial que sabe tudo sobre você e consegue prever o que você vai fazer sem que você saiba disso. Isso não é uma competição justa.”
— Roger McNamee

O designer é uma figura importante no processo, pois está na linha de frente, ele é o guardião do portão por onde estes produtos e serviços saem. Existem coisas que sempre serão problemáticas. Por exemplo: não existe uma forma ética de projetar um muro para manter refugiados longe da segurança ou mesmo um banco de dados que mantém rastros de imigrantes para fins de deportação.

Mas então, como projetar minimizando as distrações, respeitando o tempo e a atenção dos usuários e devolvendo o controle deste tempo para eles? Precisamos encontrar maneiras de projetar que não prejudiquem o usuário e, a grande questão é: a atenção vende, é o que faz as grandes empresas de tecnologia estarem entre as mais ricas do mundo.

Algumas coisas que podem ser um ponto de partida para buscar melhores soluções:

  • Aceitar que o que você criou ou ajudou a criar, e o impacto que isso tem causa.
  • Estabelecer um diálogo dentro das empresas em que atua sobre a importância de respeitar o tempo e a atenção dos usuários.
  • Buscar dar opções reais de escolha para os usuários sobre as configurações, de uma maneira que ele possa entender o que determinada funcionalidade faz e quais as consequências de ativá-la ou não.
  • Não trazer funcionalidades que podem prejudicar os usuários ativadas por padrão. Um bom exemplo disso é a funcionalidade dos aplicativos de enviarem notificações, que sempre foi ativada por padrão e hoje praticamente todos os sistemas de smartphones obrigam o aplicativo a perguntar se ele gostaria de receber estas notificações.
  • Escolher não participar de projetos e empresas que atuem neste contexto da economia da atenção e que não respeitem a atenção dos usuários. (nem sempre é possível)
  • Fomentar e trazer a discussão à tona nos mais variados fóruns.

Esta página é um ponto de partida para, talvez no futuro, projetarmos produtos e serviços mais humanizados e transparentes. Abaixo você encontra algumas referências de livros, websites, podcasts e guides de design que podem ajudar você com esse primeiro passo.

Conteúdos para quem busca saber mais

Ruined by Design: How Designers Destroyed the World, and What We Can Do to Fix It, de Mike Monteiro (Em Inglês)

Um livro mais do que necessário que vai mudar sua visão sobre o papel do designer.

Saiba Mais

Humane Design Guide (Em Inglês)

Um guide de design que funciona como um ponto de partida para auxiliá-lo a entender e projetar produtos mais humanizados. Criado pelo Center For Humane Technology.

Saiba Mais

O Código de Ética para Designers

Uma reflexão sobre o papel do designer com um olhar crítico sobre a profissão, escrita por Mike Monteiro em 2017. Já traduzido para 21 idiomas pela comunidade.

Saiba Mais