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Pesquisador

A Era da atenção e da vigilância

Vivemos em uma era na qual os dados são o recurso mais valioso do planeta. Os nossos dados são usados para predizer o que vamos fazer e moldar nossos comportamentos. Entenda melhor este cenário.

Você chegou aqui provavelmente porque sentiu, em algum momento da sua vida, que algo não estava certo no mundo digital no qual estamos inseridos. E você está certo. Passamos cada vez mais tempo em dispositivos conectados à internet, como smartphones e computadores, e às vezes temos a estranha sensação de que não conseguimos nos desconectar.

Isto realmente acontece e esse é o principal objetivo das grandes empresas de tecnologia como Google e Facebook, nos manter conectados e engajados pelo maior tempo possível. Isto está afetando negativamente as pessoas. Estudos apontam que a simples presença de smartphones afeta a aptidão cognitiva 1, e que pais que se distraem quando brincam e interagem com as crianças pequenas, direcionando os olhos para outros objetos como smartphones, podem impactar a capacidade das crianças de prestar atenção e geram, assim, atrasos de desenvolvimento. 2

“Existem apenas duas indústrias que se referem aos seus clientes como usuários, a das drogas e a de tecnologia” — Edward Tufte

Este estado de conexão contínua gera vícios comportamentais que continuam a crescer a crescer com a inovação tecnológica e as mudanças sociais. Um estudo recente sugere que mais de 40% da população estadunidense sofre de alguma forma de vício ligado à internet, seja envolvendo e-mails ou jogos 3.

Para nos aprofundarmos no contexto, precisamos entender de onde vêm estes insumos e como chegamos no momento que estamos hoje, como humanidade.

A era da atenção e da vigilância

Os insumos que alimentam e abastecem a indústria da atenção só são possíveis em virtude de todo o avanço tecnológico da humanidade nas últimas décadas, combinado com a enxurrada de dados que são computados e processados atualmente.

No início dos anos 2000, depois de deletar toneladas de dados nos anos anteriores, a Google passou a utilizar o excesso de dados gerados pelas pesquisas dos usuários em seu buscador para predizer o comportamento futuro destes e monetizá-lo, vendendo aos anunciantes algo que não se imaginava que era possível: a certeza de que as pessoas iriam clicar em seus anúncios.

As empresas de tecnologia estão entre as mais ricas da história da humanidade.

Aquele era um momento em que diversas discussões sobre privacidade estavam ocorrendo, contudo, devido aos atentados de 11 de setembro de 2001 e o início da "guerra ao terror", a propaganda de guerra promovida pelo governo estadunidense mudou completamente o foco e, assim, as diversas medidas relacionadas à privacidade que eram debatidas foram omitidas em prol de uma política de segurança em vez de privacidade. Com isso, as atividades de vigilância cresceram de forma extrema, levando a remover barreiras, como a necessidade de mandados para coletar informações pessoais. Isso normalizou as práticas de vigilância e as fez parecerem essenciais.

Superávit comportamental utilizado para predizer o comportamento futuro dos indivíduos e vender para governos e anunciantes. — Shoshana Zuboff

Com este cenário criado, uma quantidade sem precedentes de dados passou a ser coletada e utilizada para criar produtos e serviços e, juntamente com o aprendizado de máquina, predizer as ações atuais e futuras de determinado sujeito. Essa enorme quantidade de dados sobre os indivíduos é conhecida como superávit comportamental. Esse contexto viabilizou o que é intitulado capitalismo de vigilância, uma ordem econômica sem precedentes que reivindica o comportamento online e offline dos indivíduos.

Essa corrida pela atenção dos usuários somente se tornou possível devido a esta inimaginável quantidade de dados que são coletados, a todo momento. Estes dados fazem com que essas empresas de tecnologia estejam entre as mais ricas da história da humanidade.

Esta página é um ponto de partida para quem busca entender mais o contexto atual e se aprofundar no assunto. Abaixo você encontra algumas referências de livros, websites, podcasts e guides de design que podem ajudar você com esse primeiro passo.

Conteúdos para quem busca saber mais

A Era do Capitalismo de Vigilância, de Shoshana Zuboff

Uma obra-prima em termos de pensamento original e pesquisa, que apresenta ideias e conceitos sobre esta era em que vivemos. Essa vigilância é o insumo para a economia da atenção.

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Irresistível: Por que você é viciado em tecnologia e como lidar com ela, de Adam Alter

Um estudo definitivo sobre o vício comportamental, um problema a que todos nós estamos sujeitos em razão das irresistíveis tecnologias digitais do mundo de hoje.

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Addiction by Design: Machine Gambling in Las Vegas, de Natasha Dow Schüll (Em Inglês)

Um trabalho fantástico de investigação sobre a concepção e o uso das máquinas caça-níqueis em Las Vegas. É assustador como pode-se traçar um paralelo com o uso dos smartphones. O que está em jogo é uma indefinição da linha entre design e experiência, lucro e perda, controle e compulsão.

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Algoritmos de Destruição em Massa, de Cathy O'Neil

Usamos produtos e serviços e somos controlados e regulados por algoritmos. Um olhar único e espantoso sobre os algoritmos que rodam em praticamente todos os serviços que utilizamos, explicado com maestria com o conhecimento matemático de O'Neil e sua grande capacidade de criar analogias.

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